Como as redes sociais têm minado a democracia representativa
As redes sociais foram saudadas no final do século XX como um avanço para a democracia, mas a história tem mostrado que isso não tinha fundamento. No contexto das cinco revoluções que ocorreram durante a transição do século XIX para o século XXI, a revolução tecnológica propiciou a comunicação em tempo real e a formação de redes sociais. Mas essa facilidade de comunicação não trouxe uma melhora para a democracia representativa, pelo contrário, as redes sociais tendem a minar a democracia.
A mobilização por meio de redes sociais possibilita vetos e protestos, mas não o labor argumentativo nem a construção de acordos com base em um debate livre e crítico e na priorização de compromissos cívicos. Isso porque, em razão do contínuo fluxo de informações sem filtros nas redes digitais, a maioria dos cidadãos não é capaz de processá-las com a devida precisão.
Sem informações verazes sobre o que os atores políticos estão falando e fazendo, torna-se difícil para os cidadãos distinguir entre o que é verdade e o que é mentira. Com isso, a comunicação virtual empobreceu a ação cívica e introduziu uma lógica de curto prazo, substituindo a formulação de políticas públicas por agitação raivosa e por manifestações antidemocráticas.
Ideias, promessas, projetos e alianças passaram a ser minadas do dia para a noite. Em vez de ajudar a moldar o futuro, viabilizando a formação de um consenso em torno de um projeto de nação, as redes digitais reduziram as discussões a um moralismo fundado em pautas simplificadoras para julgar cidadãos comuns e políticos.
Essa situação tem feito com que políticos cujo desprezo às instituições democráticas tende a crescer quanto maior é a receptividade de suas falas mentirosas e odiosas nas redes digitais sejam eleitos. Isso aumenta a assimetria entre conhecimento e poder e vulnerabiliza a sociedade a toda forma de irresponsabilidades e de insensatez.
Por isso, é importante que a Câmara dos Deputados aprove com urgência o projeto de Lei n° 2630/20, que institui a Lei Brasileira de liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet e criminaliza a disseminação de conteúdo falso nas redes sociais e nos serviços de mensagens privadas. Isso ajudará a proteger as liberdades fundamentais à medida que avançam, em velocidade digital, fake news eivadas de demagogia e autoritarismo.
Em meio ao embate entre as instituições democráticas brasileiras e a força econômica de empresários bilionários com forte protagonismo numa economia globalizada, é importante entender que a política é uma forma de obter, por meio do diálogo, as condições mínimas de articulação de regras e procedimentos que permitem a definição de objetivos, o estabelecimento de prioridades e a elaboração de estratégias.
Porém, a negociação política costuma ser complexa e lenta, incompatível com a fluidez e com a volatilidade inerentes ao tempo real da era digital. E é impossível entender a política fora de um quadro normativo de regras democráticas instituído pelo Estado, além de ser um mecanismo de entendimento que processa divergências e compõe soluções.
A democracia representativa pressupõe a delimitação de direitos e deveres, e ainda que não seja viável saber o que vai acontecer com a política, uma coisa é certa: as transformações na tecnologia de comunicações configuram um cenário que a democracia representativa não tem conseguido controlar.
Por isso, a mobilização por meio de redes sociais precisa ser vista com distanciamento crítico e precisamos encontrar um equilíbrio entre a comunicação facilitada pela tecnologia e a necessidade de argumentação e de construção de soluções democráticas para os problemas do país.
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Por /Blog do Fausto Macedo